sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

QUILOMBO DE MESQUITA


Mesquita é um Quilombo que fica ali perto da Cidade Ocidental e Valparaízo de Goiás. Muitos sabem mas é bom lembrar que a palavra “quilombo”tem origem nos termos ‘ki lombo” (Quimbundo) ou “ochilombo”(Umbundo),presente também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos povos Bantus que habitam a região de Angola,na África Ocidental que designava apenas um lugar de pouso utilizado por populações nômades ou em deslocamento; posteriormente passou a designar também as passagens e acampamentos das caravanas que faziam  o comércio de cera,escravos e outros itens cobiçados pelos colonizadores.
Foi no Brasil que o termo “quilombo” ganhou o sentido de comunidades autônomas de escravos fugitivos, portanto o povoado de Mesquita é uma comunidade remanescente de quilombolas goiano, que foi contemplado com um “Projeto Quilombola” que teve como uma das ações a capacitação de profissionais da educação do qual eu fiz parte como professora ministrante de cursos.
Falar do Mesquita é sentir saudades de mais um curso que realizei pelos municípios brasileiros com uma peculiaridade de que lá aprendemos mais com eles, sobre sua formação, costumes, religiosidade e etc.
É uma comunidade que possui, já no seu “mito fundador”, a imagem feminina e não poderia deixar de ter mulheres exercendo papéis de grande importância desde que em uma fazenda chamada Mesquita o seu proprietário já em final de vida resolveu doar parte das terras para três escravas da Fazenda, há mais de 200 anos. Portanto os negros foram os primeiros moradores do povoado onde o filho de um casava-se com o filho do outro e construía sua casa ao lado da casa do pai e assim formou-se o povoado. Foram com os netos (as), bisnetos (as) e tataranetos desses descendentes que compartilhamos duas semanas de curso num total de 80 horas aulas presenciais no período de 15 a 23 de fevereiro de 2008.

 Segundo o Prof. Henrique Cunha Jr.”O principal problema encontrado no processo de ensino e aprendizado da História Africana não é relativo à história e à sua complexidade, mas é com relação aos preconceitos adquiridos num processo de informação desinformada sobre a África.”
Para trabalhar com essa complexidade Regina Márcia de Jesus Lima, Vera Maria Ribeiro Vianna e eu, tendo Marlene Fátima Silva como coordenadora trabalhamos com palavras geradoras como:

PRECONCEITO – DISCRIMINAÇÂO – DIVERSIDADE – CONFLITO – EXCLUSÂO SOCIAL- construindo, desconstruindo e reconstruindo conhecimentos sobre a História da África / Cultura e História Afro brasileira. Nossa proposta pedagógica foi a “Pedagogia de Projetos” com muitas atividades lúdicas e oficinas.

 

Contamos com a participação especial de Reinaldo Gusmão meu amigo e vizinho morador do Valparaízo que nos brindou com a história da Capoeira e sua influencia na formação da cultura brasileira. Tivemos também a presença de moradores contando a sua história de vida como o Senhor César Alves Rodrigues, o Senhor Antonio Pereira fabricante de marmelada, uma das principais produções da comunidade. Vera Vianna minha querida amiga, companheira de cursos deu-nos uma entrevista sobre sua viajem a África levando a bolsa escola do então governador do Distrito Federal Cristovam Buarque.
Além das 80 horas do curso os professores tiveram mais 40 horas não presenciais para elaborarem projetos sendo um para cada nível dos alunos da Escola Municipal Aleixo Pereira Braga, para aplicação da Lei nº 10.639/2003.
A todos que participaram comigo dessa jornada pedagógica fica meu desejo de que esse não seja apenas mais um curso, mas sim o recomeço de uma nova consciência negra com liberdade, oportunidade e igualdade para todos e algo muito significativo para todos nós educadores brasileiros.